Somos "assaltados" por várias pessoas que moram nos semáforos numa das cidades mais populosas do mundo. Eles vendem essencialmente 2 coisas: bens e serviços. Em relação aos bens: há toda a espécie de acepipes para enganar a fome e sede de quem vai ao volante da cidade que tem o trânsito mais caótico do mundo (pelo menos para mim, nunca vi nada assim - o mais corajoso, ou quem tem o carro mais "podre", avança primeiro!!), senão vejamos: pipocas, chocolates em barra, hóstias coloridas, amendoins com sal e limão, amendoins com chili, pastilhas de todas as variedades, qualidades e sabores, doces de toda a espécie e feitio, água, coca-cola, ou sprite disponíveis em versão garrafa de 1/2ltr ou 1 ltr ou ainda na versão compacta de lata. Há ainda os que vendem brinquedos para bebé ou criança.
Quanto aos serviços: há várias pessoas que empunham uma garrafa de plástico com um líquido suspeito, uma espécie de escova de plástico, um pano sebento e que antes de chegarem ao pé do carro já estão a testar a pontaria acertando no vidro da frente, para que o incauto e desatento condutor não tenha hipótese de recusar tão maravilhoso serviço. Há pais vestidos de palhaços que levam os filhos vestidos de palhaço também, numa versão de palhaço pobre que revoltaria o palhaço-pobre do Circo Cardinali e fazem o triste espectáculo de saltitar com o puto em pé às cavalitas do pai durante alguns segundos do sinal vermelho para os espectadores impávidos da linha da frente. O espectáculo não pode durar muito tempo, pois há que apressar os filhos a pedirem os tão necessitados pesos antes que o sinal mude para verde! Ainda há os que vendem os jornais diários repletos de notícias sangrentas de novos mortos resultantes de narcotráfico ou de pura sede de violência derivada da delinquência existente nesta cidade.
Todos procuram ganhar algum dinheiro que os permita sobreviver! Escolhem esta vida ou são empurrados para ela? Não sei dizer... parece-me que deve haver um bocadinho dos dois. Todas estas pessoas têm a sua história para contar e entristece-me saber que há tanta gente a viver tão mal! Como é possível uns terem tanto e outros tão pouco? Porque é que não podemos ter todas as mesmas oportunidades? Apenas por somos todos diferentes e enquanto uns querem melhorar a sua vida, outros contentam-se em viver o presente sem pensar no futuro? Sou eu que sou uma idealista, mas num mundo feito por mim, as coisas seriam bem diferentes.
É deprimente a vida nos semáforos da Cidade do México, sim, porque há pessoas que para além de trabalharem lá, vivem lá!! Vivem em barracas construídas com cartão, contraplacado ou qualquer outro material que permita ao mesmo tempo dar privacidade e esconder a miséria de quem mora debaixo de viadutos e estende a sua roupa e a de toda a família nas vedações usadas para dividir as estradas que todos os dias vomitam milhões de carros cheios de gente que vêm trabalhar à cidade e que no final do dia voltam para as suas casas, sabendo que amanhã os espera mais um par de horas perdidos no trânsito tanto para ir como para regressar. Qua raio de vida, chiça!!